Reunidos em Gondola, província central de Manica, desde quinta-feira (14 de Março), diferentes actores da cadeia de valor de semente (pesquisa, produção, multiplicação e disponibilização) projectam vaticínios para a melhoria do cenário pouco competitivo apostando sobretudo em políticas favoráveis e ousadas linhas de acção. Como se lê no discurso de abertura do evento, proferido pelo Director Provincial da Agricultura e Pescas de Manica, Ernesto Jaime Lopes, a “Reunião Nacional do Sector de Sementes enquadra-se na perspectiva da nossa cada vez crescente organização e planificação harmonizada com o sector empresarial e familiar nacionais, para que possamos dar cobro às demandas ascendentes e sempre mais exigentes no mercado”. Ernesto Lopes falava em nome da Governadora de Manica, Francisca Domingos Tomás, que discursaria em representação do Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia. Bastante concorrida, a reunião foi organizada pelo Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) em coordenação com a Direcção Nacional de Sanidade Agro-pecuária e Biossegurança (DNSAB).
O evento que poderá culminar com um Plano de Acção dos Actores de Sementes foi antecedido, na quarta-feira (13), por uma igualmente concorrida visita às empresas PHOENIX e COMPANHIA DO ZEMBE em Vanduzi e Cidade de Chimoio, respectivamente. As preocupações levantadas na visita, concernentes à produção de sementes e a sua disponibilidade no mercado, mereceram debates mais críticos e profundos logo no primeiro dia da reunião dos actores de sementes, que se juntam em Gondola. Esperançosos de que dessa reflexão e troca de experiências traçarão estratégias que permitam melhorar o sector de produção de sementes em Moçambique, os actores da cadeia de valor de sementes olham para a investigação agrária como a génese do processo. Aliás, essa constatação viria a ser reforçada pelo retromencionado discurso de abertura da Reunião Nacional do Sector de Sementes, porquanto este refere que “Como temos frisado, a investigação agrária é o ponto de partida e de apoio na cadeia de transformação do nosso sector agrário, sendo a semente a matéria-prima primordial para o alcance desse desiderato em benefício último das famílias moçambicanas, seja no campo, seja nas zonas urbanas”.
A reunião dos actores de sementes em Moçambique, que nesta sexta-feira cumpre o seu último dia sublinha o compromisso do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural de “deixar de lado tudo o que tem sido parte da corrente que atrasa o salto que pretendemos dar como nação no capítulo das sementes e dar as nossas contribuições de forma honesta e destemida”. Para as autoridades da agricultura moçambicana, “estão reunidas as condições para, de uma vez por todas, darmos o passo que faltava para materializarmos a semente em uma grandiosa mina agrária para o desenvolvimento do país.”
Como que a demonstrar esse empenho, a reunião coincide com a apresentação de 13 (treze) novas variedades desenvolvidas recentemente pelo IIAM de 4 (quatro) culturas, sendo: 2 (duas) de Trigo, 6 (seis) de Gergelim, 4 (quatro) de Feijão Vulgar e 1 (uma) de Milho. Estes resultados da pesquisa do IIAM foram partilhados numa exposição de produtos agrários montada junto do local da reunião, com destaque para as sementes.
Tanto as reflexões na sala de sessões como a observação dos produtos expostos e as interacções com os produtores presentes realçam a “necessidade de adoptarmos um sistema de sementes que, através da observância dos direitos de propriedade intelectual, reforce as formas de reinvestir na investigação para o surgimento de novas variedades”.
Por outro lado, urge que se caminhe para a competitividade também olhando para as dinâmicas do mercado internacional. Nesse sentido, numa apresentação feita sob o tema “O sector de sementes e seus desafios em Moçambique” foi referido que “Se queremos atingir mercados internacionais temos que ousar, e estamos a ousar, mas também temos que aderir aos organismos e mercados internacionais” para além de ser necessário domesticarmos os protocolos internacionais para melhor adopção das boas práticas. Nesta sexta-feira são esperadas apresentações das experiências de três países: Zâmbia, Malawi e Quenia para além de reflexões sobre a protecção da propriedade intelectual e mecanismos de licenciamento para a produção de semente de variedades do IIAM pelas empresas de sementes. (Roseiro Moreira e Joaquim Waite, em Gondola).